O carteiro sempre toca duas vezes

O mercado financeiro é feito de muitos clichês, que com certeza são parte da construção do cenário, mas que no final são muito mais complexos do que deveriam.

Nesses anos de experiência atuando como assessor de investimentos, vejo as pessoas gastando muito mais tempo tentando encontrar um caminho especial e esquecendo do quanto o básico é poderoso quando falamos de juros compostos.

Partindo desse ponto de vista, a frase que intitula esse artigo, quer trazer uma reflexão muito simples, de que não importa o que seja feito, sempre haverá uma segunda chance.

E isso é muito forte quando falamos dos investimentos. Pois o mercado é cíclico, as diferentes matrizes macroeconômicas estão sempre em movimento e o ajuste de rota sempre é possível.

Howard Marks

Na última semana, tive a oportunidade de ouvir Howard Marks, um dos maiores investidores da história, fundador da gestora Oaktree e ele é muito cético com o assunto, sobre basicamente o quanto não devemos estar tentados a acertar o melhor momento, mas estarmos posicionados para se aproveitar de diferentes ciclos do mercado.

Os ciclos vão se formando ao longo do tempo, independente da vontade humana. Eles são inevitáveis, pois sempre haverá altos e baixos da economia e isso tanto vale para o mercado de renda variável como para a renda fixa/crédito.

Os investidores em vias gerais estão sempre agindo de acordo com os seus vieses e isso os fazem esquecer do passado e assim acabam entrando dentro de um novo ciclo, é inevitável. Esses ciclos são autocorretivos, pois a reversão de uma tendência, já está criando a condição para um novo ciclo e assim sucessivamente.

“A história não se repete, mas rima”

Como bem citado por Marks, quanto mais o ciclo se distancia do seu ponto médio, maior será o impacto dele na volta.

E nesses momentos estão os pontos de inflexão que oferecem os maiores ganhos e perdas, mas o ponto principal deveria ser o de buscar entender os pontos médios dos ciclos, pois neles estão os ganhos mais consistentes e duradouros.

Acertar o ponto ideal é excelente, mas nunca esqueça, como bem fala Marks: “um ciclo no mundo econômico consiste em uma série de eventos que dão origem aos seus sucessores”.

Ou seja, você acertou agora, mas é bem provável que esteja fazendo parte do processo do próximo ciclo e a tendência é de que se não estiver bem ajustado para o novo caminho, irá perder que seja em parte aquilo que ganhou.

Cenário prático

Pensando em um cenário prático, com a experiência que vejo diariamente os clientes vivenciarem, me parece que acaba sendo esquecido o poder dos juros compostos ao longo do tempo, há uma busca em fazer o melhor movimento, sendo que nos ciclos, a relação risco retorno deveria ser prioridade.

Tomar decisões erradas em investimento faz parte do processo, no final do dia, o investidor de sucesso mais acerta do que erra e aceitar que as más escolhas fazem parte faz toda diferença. Muitas vezes, não fazer nada é a melhor escolha. Por isso a importância de ser ter um caminho, um perfil, um objetivo, pois isso vai nortear a trajetória.

“Quanto fracassos você aguenta até chegar o sucesso?”

A humildade de saber que errou, corrigir rápido, sabendo que está sempre no meio de algum ciclo, na minha visão faz toda a diferença.

Não quero cair num clichê de que apenas o longo prazo é a solução de tudo para os investimentos, mas sim entender que “o carteiro sempre toca duas vezes a sua porta” e todo dia temos a oportunidade de encontrar o nosso caminho dentro do ciclo mais adequado.