Superávit foi de US$ 45,1 bilhões no primeiro semestre de 2023, mostra FGV/Icomex

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Superávit foi de US$ 45,1 bilhões no primeiro semestre de 2023, mostra FGV/Icomex

20 jul 2023Última atualização: 21 junho 2024

Redação It's MoneyRedação It's Money

O saldo da balança comercial em junho de 2023 foi de US$ 30 bilhões, levando a um superávit de US$ 45,1 bilhões no primeiro semestre de 2023.

Na comparação mensal, o saldo de 2023 foi superior em US$ 1,6 bilhão ao de junho de 2022. Na comparação dos primeiros semestres, o saldo de 2023 foi US$ 10,8 bilhões maior do que o de 2022.

As informações são do relatório do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta quinta-feira (20).

A melhora do superávit foi obtida com um recuo maior nas importações (-18,2%) do que nas exportações (-8,5%), na base mensal, e com a queda nas importações (-7,1%) e um pequeno aumento nas exportações (+1%), na comparação semestral.

Não seria um cenário a ser comemorado, a melhora do superávit está associado a uma redução nas importações o que reflete o baixo nível de atividade econômica do país. . No entanto, os dados chamam a atenção para um resultado que merece ser analisado.

De um lado, a queda de preços tanto nas exportações quanto nas importações, mas, por outro lado, o aumento do volume exportado e a variação quase nula nas importações.

O comportamento do volume importado é condizente com o baixo nível de atividade. O aumento no volume exportado se traduz em aumento real das vendas no mercado mundial. Seria apenas uma oportunidade com a crise na Ucrânia e seca na Argentina levando ao aumento da demanda pelos grãos e petróleo brasileiros?

O estudo comparou a evolução dos índices de preços e do volume do primeiro semestre dos anos de 2007 a 2023. Ressalta-se que o aumento no volume exportado é uma tendência no comércio exterior do Brasil, enquanto os preços apresentam um comportamento cíclico.

Superávits

Para a obtenção dos superávits, um dos componentes do valor pode dominar. Entre o primeiro semestre de 2022 e o de 2021, os preços cresceram 19,8% e o volume, 0,5%. Entre o primeiro semestre de 2023 e o de 2022, como mencionamos, o comportamento foi o inverso: preços com recuo de 6,5% e aumento no volume de 8,5%.

Aumentos de volume para a análise das exportações traduzem maiores ganhos de acesso a mercados. Sob esse prisma, a tendência crescente no aumento do volume exportado é um sinal positivo para o setor externo.

Na comparação interanual de junho de 2022 e 2023, os preços das commodities recuaram 18,4% e o volume aumentou 10,3%. No acumulado do ano até junho, os preços caíram 7,2% e o volume cresceu 9,1%.

Essa mesma comparação entre 2021 e 2022 registrou os seguintes resultados. Na comparação mensal, os preços aumentaram em 15,9% e o volume recuou em 6,2%; na semestral, os preços cresceram 21,6% e o volume caiu 3,3%. O resultado de junho, portanto, consolida a liderança no volume no desempenho das exportações das commodities.

Observa-se que a tendência de crescimento no volume exportado é explicada pelo comportamento das commodities, que representaram 69% das exportações do país no primeiro semestre de 2023. No primeiro semestre de 2007, esse percentual era de 45%.

Enquanto o índice das commodities mostra uma tendência de alta acentuada e registra variação de 102,3%, entre o primeiro semestre de 2007 e o de 2023, o das não commodities recuou 6,3%, nesse mesmo período.

Fluxos de comércio

A análise por setor de atividade contribui para esclarecer o comportamento dos fluxos de comércio. A comparação das variações mensais do volume exportado mostra um aumento de 29,4% da agropecuária, 13,3% da indústria extrativa e queda de 2,9% na indústria de transformação.

Os preços recuam para todos os setores, e o único setor com variação positiva, no valor, é a agropecuária (+5,5%). Na comparação semestral, os preços caem em todos os setores e o volume aumenta na agropecuária (+16,8%), na extrativa (+20,0%) e fica estagnado na transformação. Novamente, apenas o setor agropecuário registrou variação positiva em valor.

A participação da indústria de transformação caiu de 79,1% para 53,1%, entre o primeiro semestre de 2007 e o de 2023. Em 2016, houve uma melhora percentual de 65,8%, mas o setor nunca mais registrou percentuais acima de 70%, que vigoraram na primeira década dos anos 2000. O maior ganho foi o da agropecuária, que passou de 8,3% para 25,6%, entre o primeiro semestre de 2007 e o de 2023.

Em seguida, a indústria extrativa, com aumento de 12,6% para 21,3%, nesse mesmo período. Observa-se, porém, que a agropecuária tem um comportamento mais estável, na sua tendência de alta, que a extrativa.

Agropecuária

A análise da tendência do volume exportado por setor de atividade mostra a liderança da agropecuária. Entre o primeiro semestre de 2007 e o de 2023, o índice do volume exportado cresceu 341%, seguido da extrativa, com 111,5%.

Em adição, como os índices partem todos da mesma base, os níveis da agropecuária, se distanciam da extrativa ao longo do tempo. Em 2023, o índice da agropecuária foi 441,5 e o da extrativa, 211,5. O índice da indústria de transformação fica abaixo de 100 entre 2008 e 2021.

Em 2022 e 2023, esse índice foi de 105,2. Um aumento de 5,2% em relação à base de 2007. Os preços, por sua vez, seguem o mesmo comportamento cíclico nos três setores, mas a extrativa apresenta oscilações mais acentuadas que a agropecuária. A indústria de transformação tem comportamento cíclico similar, mas com oscilações mais suaves.

Conclui-se que o comportamento cíclico dos preços das commodities não limitou a trajetória de ascensão no volume exportado da agropecuária, em especial, e da extrativa ao longo dos últimos anos.

Esse resultado indica que o avanço da agropecuária brasileira no comércio mundial é um fato estrutural e reflete a produtividade do setor. No entanto, é importante estimular a diversificação não só da agropecuária, mas de produtos de outros setores.

Principais produtos

No semestre, as participações dos principais produtos exportados foram de 20,2% (soja em grão), 11,3% (petróleo bruto), 8,2% (minério de ferro), 3,7% (farelo de soja), 3,2% (óleos combustíveis) e 3,2% (acúcar e melaços). Esses 6 produtos explicaram 49,8% das exportações brasileiras.

No mês de junho, os preços recuaram em todos os setores, sendo a maior queda na indústria extrativa (-42,3%). As variações em volume foram negativas na agropecuária (-37,8%) e na extrativa (-20,7%) e positiva para a indústria de transformação (+4,4%).

Na comparação interanual do primeiro semestre, os preços aumentaram em 1,2% para a agropecuária e caíram para a extrativa (-21,7%) e para a transformação (-4,5%).

Após ter recuado em 5,0%, entre os meses de maio de 2022 e 2023, as compras de bens de capital pela agropecuária aumentaram em 19,8%, entre os meses de junho dos anos citados, o que sinaliza expectativa favorável para o investimento no setor.

As compras de bens intermediários do setor continuam registrando variação negativa, na comparação mensal, o que pode refletir questões sazonais. A variação nas importações de bens de capital para a indústria registrou valor similar ao de maio.

Aumento de 16,4% (maio) e 15,4% (junho). A variação no volume importado de bens intermediários ficou estável.  No semestre, o destaque foi o aumento em 54,3% das importações de bens de capital pela agropecuária, o que contrasta com o aumento de 11,6% da indústria. O elevado investimento na agropecuária reforça a hipótese de expansão sustentada do setor ao longo do tempo.

Saldos comerciais

Os saldos comerciais melhoram em todos os mercados, exceto na União Europeia que passou de superávit para déficit. A liderança do superávit, em valor, é da China, com um ganho de US$ 5,3 bilhões entre o 1º semestre de 2022 e o de 2023.

O saldo com os Estados Unidos permanece deficitário, mas houve redução em US$ 5 bilhões. O ganho em divisas com a China foi próximo ao dos Estados Unidos.

O ganho com a China foi resultado de um aumento nas exportações (+5,9%) e queda nas importações (-8,8%). A soja, com participação de 46% das exportações, no primeiro semestre, registrou variação de 13,8%; o petróleo bruto, participação de 17%, com aumento de 7,9%; e o minério de ferro, com igual participação, queda de 6,7%.

No caso dos Estados Unidos, o ganho de divisas foi pela queda superior das importações (-21,5%) em relação a das exportações (-2,1%). O principal produto exportado para esse país, semi-acabados siderúrgicos (participação de 16%) cresceram 14,2%, mas o segundo produto, petróleo bruto (participação de 8,8%) caiu 34%. Aeronaves, participação de 5%, registrou aumento de 6% entre os dois primeiros semestres de 2022 e 2023.

A Argentina continua na liderança na variação das exportações, com aumento de 26,3%. Está presente a contribuição das partes e peças do setor de veículos e automóveis, que juntos somam 19,1% das exportações brasileiras para o país e registraram aumento de 31,3% e 15,7%, respectivamente, na comparação dos dois primeiros semestres.

Destaca-se, porém, a exportação de soja em grão, 16% do total exportado do Brasil para a Argentina, no primeiro semestre, no valor de US$ 1,55 bilhões. No ano todo de 2022, as exportações desse mesmo produto foram de US$ 181 milhões, com participação de 1,2% no total exportado pelo Brasil.

Não é um ganho permanente e se deve aos problemas da seca, em grande medida. Algo que se espera que se normalize, pois é um produto importante na pauta da Argentina.

Volume exportado

O volume exportado cresceu na comparação mensal para a China e a Argentina e caiu para os demais mercados. No semestre, aumentou em todos os mercados, exceto para a União Europeia.

No caso do volume importado, aumenta para a China e “demais países da Ásia”, nas comparações mensal e semestral. No semestre, além desses dois mercados, cresce na União Europeia.

Em suma, a melhora na balança comercial no primeiro semestre foi liderada pelo aumento do volume exportado enquanto o volume importado permaneceu estagnado.

O crescimento da China com o término da política de lockdown, efeitos da Guerra da Ucrânia no mercado de grãos, a resiliência das exportações para a Argentina que continuaram crescendo contribuíram para esse resultado.

Os últimos dados divulgados sobre a China mostram que a recuperação pode ser revertida, o que tende a ter um impacto negativo no comércio global. Não se vislumbra aumentos de preços de commodities, como no ano passado, nos próximos meses.

Não é seguro que as exportações para a Argentina irão continuar crescendo se não for equacionada a ques tão do finaciamento. Não se espera um segundo semestre com igual intensidade de crescimento do volume exportado como o primeiro.

Redação It's Money

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